Aspeto parcial do conjunto de pinturas “A menina não fica em casa” (2016, acrílicos s/tela, formatos vários entre 13 e 27cm). A intervenção no museu inclui outro conjunto de pintura e um objeto instalativo.
Part of the group of paintings “Girls don’t stay home” (2016, acrylics on canvas, different sizes between 13 and 27 cm). The intervention in the museum includes another group of paintings and an installation.
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A MENINA ✔FICA EM CASA
Este projeto de intervenção artística no Museu Militar, nas salas dedicadas à participação portuguesa na 1ª Grande Guerra, por ocasião do centenário desta, assume como perspectiva um olhar feminino.
Quando se percorre as salas deste museu surgem diferentes imagens da mulher: começando pelo retrato da jovem rainha D. Maria por Joaquim Rafael, há algumas figuras de mulheres associadas à história de Portugal, tais como a mulher de Egas Moniz com ele a entregar-se ao rei de Castela (por Malhoa), ou Inês de Castro (por Columbano).
Mas a maioria da figuração feminina neste museu é, de facto, da ordem do imaginário, um imaginário que, de certa forma, povoa o espírito guerreiro: alegorias da vitória, da fama e da glória ou dos lugares de conquista, guerreiras ou anjos protetores, mas também assombrações do terror, esposas, mães enlutadas e carpideiras, ou ainda deusas, ninfas e Nereides, aparições sensuais de amantes longínquas.
Na sombra destas, podem contudo supor-se também mulheres discretas, história invisível nos bastidores dos objetos necessários à guerra e à vida que continua: laborando uma arma, um agasalho, uma maca, um curativo ou uma oração, em especial no contexto da guerra de 14-18. Para além do museu, as histórias reais acumulam-se tanto como as suspeitadas, imaginadas, ou absurdas - como a acusação de espionagem hipotética a Sonia Delaunay, em abril de 1916, por as suas telas abstratas, a secar ao sol na casa da Rua dos Banhos de Vila do Conde, terem sido vistas por alguém como avisos em código aos submarinos alemães que passavam ao largo: no fundo, um outro tipo de participação na guerra que a certas mulheres se poderia imputar.
Seguindo à letra a designação corrente da Guerra 14-18 como “guerra das trincheiras”, e sob os exemplos inspiradores da Cruzada das Mulheres Portuguesas, de algumas mulheres das gerações de vanguarda feminista no nosso país e, em especial, das mulheres construtoras de trincheiras na frente do Rio Piave (Norte de Itália), este projeto toma como alegoria a construção de uma trincheira.
Assim, a invocação desse reduto bélico expressivo da ação dupla de defesa-e-ataque surge aqui corporizada por gestos ancestrais de labor e de potencial solidariedade feminina e pacifismo na especificidade das linguagens plásticas e pictóricas usadas (pequenas pinturas sobre tela e um objecto instalativo), num tempo em que as trincheiras reais são obsoletas e um outro tipo de guerra menos visível – a de iníquas e recorrentes violências de género, frequentemente associadas ao terrorismo – parece estar de regresso e para ficar, a não ser que as próprias mulheres pensem e ajam mais decisivamente.
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GIRLS ✔STAY HOME
This artistic intervention at the Military Museum, in the rooms dedicated to the Portuguese participation at the 1st World War, on the occasion of the centenary of this, assumes a feminine look as its perspective.
When we walk through this museum different images of women appear:
Starting by the portrait of the young Queen D. Maria by Joaquim Rafael, there are some women figures associated with the history of Portugal, such as the wife of Egas Moniz with him before the king of Castela (by Malhoa ), or Inês de Castro (by Columbano).
However, in this museum most feminine figuration belongs to imagination, an imagination that, in a way, dwells inside de war spirit: allegories of victory, fame and glory or conquest of places, warrior or guardian angels, but also ghosts of terror, grieving wives, mothers and mourning women, or goddesses, nymphs and Nereides, sensual apparitions of distant lovers.
In the shadow of all this, nevertheless, we can also glimpse discreet women, invisible stories behind the scenes of the objects needed by war and life going on: labouring a weapon, a coat, a stretcher, a healing or a prayer, especially in the context of war 14-18. Beyond the museum, real stories accumulate as much as the suspected, imagined, or absurd ones – such as the hypothetical espionage charge to Sonia Delaunay in April 1916 for his abstract canvases, drying in the sun in the house of the street of Vila do Conde baths, have been seen by someone as coded warnings to passing offshore German submarines: after all, another type of participation in the war that certain women could be ascribed too.
Literally following the current designation of WW1 as "trench warfare", and under the inspiring examples of the Portuguese Women Crusade, of some women of the feminist Portuguese avant-garde generation and, specially, of those women who built trenches at the front of Piave River (Northern Italy), this project takes the construction of a trench as allegory.
Thus, the invocation of this military device expressive of the dual action of defence-and-attack is embodied here by ancient gestures of labour and potential women’s solidarity and pacifism in the specificity of the used plastic and pictorial languages (small paintings on canvas and an installation object), at a time when real trenches are obsolete and another kind of war – the iniquitous and recurrent gender violence, often associated with terrorism – seems to be back and stay, unless women themselves think and act more decisively.
Isabel Sabino, April 2016
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