Ainda (2010)
No Museu Nacional de Arte Antiga, até 27 de Fevereiro de 2011
Partindo de uma hipotética projecção dos painéis de S. Vicente num plano horizontal, a obra vive da instalação de uma fila de seis estreitas caixas no chão, sem outro plinto senão quatro folhas de espelho alinhadas, impondo discretamente uma fronteira ou simples entrave à deambulação dos visitantes na sala.
Tanto quanto possível respeitadoras em escala da largura dos painéis, espessura das molduras e distância entre estas, e de altura mínima ditada pelo tamanho do conteúdo apresentado, cinco dessas caixas são transparentes e abertas, e a última, negra e fechada, oculta o interior.
Visíveis dentro das caixas e reflectidas no espelho, há hóstias, o mais singelo símbolo da comunhão na fé e na cultura de que os Portugueses fizeram bandeira para a expansão no mundo. E, tacteando uma ponte sobre o tempo, a nossa (íntima) inquietação recorda que, em latim, a significação última de hóstia remete para “vítima”, “sacrifício”, podendo propor uma reflexão contemporânea sobre o discurso dos painéis para além do sentido mais estrito dos mistérios da autoridade, dos rostos, das diferentes mangas de veludo ou da própria relíquia que o chão (nosso) sustenta, ainda.
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